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03 - Primeiros Associados

Uma vez fundado e já contando com centenas de associados desde os primeiros anos, o Centro Cultural 25 de Julho de Porto Alegre precisaria de uma sede. Inicialmente os encontros, os festejos e as atividades culturais eram realizados em outros clubes que cediam aos amigos seus espaços: Clube Caixeiros Viajantes, Sociedade Navegantes São João e SOGIPA. Também há relatos de utilização do refeitório dos funcionários da Fábrica Renner e do Bar Odalisca, ao lado da fábrica. Para pequenas reuniões era alugada uma sala na Rua Senhor dos Passos.


Sr. Nührich - Sempre na Direção do 25
Oswin Müller, sempre na direção do 25

Assim que possível, em 1953, foi alugado o galpão nos fundos de uma velha casa na Av. Cristóvão Colombo, 648, quase em frente à Cervejaria Brahma. Ele foi transformado em salão com palco e recebeu aqueles primeiros sócios (que já eram centenas), com intensas atividades de ensino, jardim de infância, aprendizado de língua alemã e apresentações de música e teatro.

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Foi um Centro Cultural criado em um momento histórico em que os descendentes de imigrantes alemães, na sua maioria pessoas vindas do interior para a capital em busca de trabalho e estudos, estavam muito fragilizados em função da repressão do governo brasileiro. E sabe-se que a necessidade move montanhas. Essas pessoas, assim fragilizadas, que chegavam meio perdidas em Porto Alegre, longe de suas comunidades ainda tão apartadas da cultura da cidade grande, encontraram no Centro 25 de Julho a sua identidade.


Sentir-se em casa, poder falar a língua materna, sentir-se acolhido é vital. Foi assim que esta comunidade tornou-se tão forte.



ORGANIZAÇÃO COM PERSONALIDADES DE PESO

O “projeto CC25J” em Porto Alegre teve apoio inicial, entre outros, de um membro da família Renner. Um de seu filhos, Otto Rudi Renner, foi o sócio nº2 presente na reunião de fundação da sociedade.Na sequência dos primeiros associados podemos encontrar todos os filhos de A. J. Renner, inclusive o próprio! Mas não fica por aí, se o leitor reparar, vai ver que entre estes primeiros associados estão muitos nomes de empresários, políticos, intelectuais, padres e pastores... Muitos deles viraram nomes de ruas e, claro, todos eram de origem alemã.

Mencionar a família Renner é interessante, porque A. J. Renner foi um industrial visionário e apoiador de quem tivesse boas ideias, sendo muito ativo política e socialmente. Atuou na fundação de diversos Clubes e Sociedades de Porto Alegre. Seguindo esses passos do pai, seu filho Otto encontrou na proposta inicial de Pe. Balduíno Rambo sobre os Centros 25 de Julho mais uma forma de valorizar e resolver as necessidades de centenas de funcionários de suas empresas.

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Este envolvimento das empresas Renner na capital com os migrantes provenientes do interior já vinha acontecendo há mais tempo. Um grupo de homens vinha se reunindo no refeitório da Fábrica Renner e também na Igreja da Paz, com apoio do Pastor Schlieper, para resgatar o antigo e outrora silenciado Sängerbund Eintracht que, com a fundação do “25”, tornou-se o Coro Masculino 25 de Julho.


Com sua instituição e toda a articulação para o “25” vingar e ser um Centro Cultural bem-sucedido, observa-se um verdadeiro movimento de apoio mútuo entre os descendentes de alemães para não deixar morrer sua cultura e valorizar seus conterrâneos.


POR QUE CANTAVAM?

Cantar sempre foi atividade indispensável para os imigrantes alemães no Brasil: momento de encontro, cultivo da arte, cultura e lazer. Lembre-se, até os anos 1940 não havia luz no interior, não havia rádio... Foi dito no início desta história que estavam isolados da sociedade brasileira. Isolados significa, mesmo, i-so-la-dos: geograficamente, sem comunicação, com transporte limitado (uma viagem a Porto Alegre poderia levar um dia para ir e outro para voltar, ou mais!), quase sem dinheiro e, sobretudo, sem ter qualquer ideia do que fosse, culturalmente, esta tal sociedade brasileira, ou cosmopolita. Este isolamento requeria esforços também no sentido de lazer e cultura para manter as pessoas vivas, com vitalidade e vigor. Por isso, cantar era atividade fundamental! (FLORES, Hilda A. H. Por que cantavam? In.: GERTZ, R.; FISCHER, L. A. Nós os teuto-gaúchos. Porto Alegre: UFRGS, 1996. Pp. 89-92.)

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Existe uma lei da natureza chamada de Princípio de Sobrevivência da Espécie, segundo a qual, para garantir a sobrevivência de cada indivíduo e cada ser único, uma espécie precisa ter continuidade no tempo e se fortalecer no espaço. É assim que cada nova geração herda de seus ancestrais não só a genética, mas a cultura, costumes e emoções. É a partir da herança que poderão surgir inovações. (GRISA, Pedro. O Jogo e a Estrutura das Personalidades, Florianópolis, Edipappi, 1992, cap.II.)

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Em termos de espaço, possibilitando a sobrevivência, as espécies vivem em agremiações de indivíduos, organizando-se em “aglomerações”. Uma destas formas de agremiações são as Sociedades e Clubes. Apresentada a história da desarticulação da herança cultural dos imigrantes, é fácil compreendermos sua necessidade de cultivo das tradições e de agremiação com seus pares. Até antes do desenvolvimento tecnológico da sociedade globalizada, as artes (canto, teatro, dança) eram o meio de comunicação, lazer e forma de mexer positivamente com as emoções das pessoas, fazendo-as se sentirem vivas e dispostas.


É neste mesmo sentido que também se entende o relato de Denis Gerson Simões – ex-Presidente do “25” e também historiador – dizendo que o Centro Cultural 25 de Julho de Porto Alegre em suas primeiras décadas foi muito mais um clube, uma agremiação do que um Centro de Cultura. Denis ainda acrescenta:


“E isso nada depõe contra o “25”! Muito pelo contrário, mostra a importância da socialização. E mostra um traço marcante da cultura alemã – a cultura da Alemanha mesmo! – que é fazer o lazer e as sociabilidades através da cultura. Para alemães – e em grande parte para seus descendentes no Brasil – fazer teatro, cantar em coral ou em roda, dançar, entre outras coisas, não é necessariamente levar adiante essas atividades de forma artística profissional. Antes de tudo, é a forma de se encontrar, conviver e, mesmo, de se divertir.” (Depoimento de Denis Gerson Simões concedido a Angélica Boff, em 16/jun/2021).


É, portanto, com este viés social que, por muito tempo, se fez teatro, música e dança no Centro Cultural 25 de Julho de Porto Alegre.

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Este pensamento de Denis Simões se faz evidente em alguns depoimentos de outros associados bem como também na própria arquitetura da sede construída em 1958/59 – uma arquitetura que atende muito mais a eventos sociais do que a culturais. Tem palco? Sim, tem. Mas se trata mais de um salão com palco do que um teatro com a infraestrutura para espetáculos artísticos (tanto de plateia como de backstage, ou bastidores, com coxias, camarins, estruturas para cenários, iluminação e acústica).




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