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09 - Expresso 25

Com o advento dos rebeldes anos 1960, a Ala Moça – os jovens filhos dos associados, reunidos em grupo – fervia no “25”. Helga Süffert (a Heca), uma dessas jovens à época, conta- nos hoje, em depoimento:


“O “25” era maravilhoso, porque lá a gente podia fazer o que quisesse. E a gente inventava de tudo na Ala Moça. Até que inventamos o coral.” (Depoimento de Helga Süffert concedido a Angélica Boff em maio de 2021)


Os jovens desse clube podiam ser encontrados reunidos em grupo em alguma das salas sob o título oficial de Ala Moça do Centro Cultural. As reuniões da Ala Moça eram momentos em que o grupo de jovens fazia jus à proposta cultural do Centro. Ali, os filhos dos sócios foram criando, aos poucos, diversas atividades: alguns frequentavam as aulas de dança folclórica ministradas pela professora e coreógrafa Tony Seitz Petzhold, que também dirigia um grupo de danças com eles; outros tinham aulas de canto; outros, de alemão; e também houve momentos de desenvolvimento de grupos de teatro. Tudo o que aprendiam e ensaiavam era apresentado em oportunidades e ocasiões culturais ou de lazer. (Cf. “Livro Ata da Ala Moça – Centro Cultural 25 de Julho de P. A.”. Acervo Histórico do Centro Cultural 25 de Julho de Porto Alegre).


Ala Moça

A organização das reuniões dançantes que aconteciam normalmente em domingos à tarde, às vezes em sábados à noite, era o ponto alto do grupo. Tratava-se de sua vida social tanto em termos de amizade e namoros como do grande prazer da música e da dança. Helga Süffert, a Heca, recorda ao ver suas fotografias pessoais:


“Para as reuniões dançantes, a gente tinha que empurrar a eletrola até o restaurante e depois levar de volta. As reuniões terminavam com uma música chamada Silêncio.”



Foto: Os cuidados com a eletrola e a compra de nova agulha para ela era pauta de reunião de diretoria da Ala Moça. Helga Luiza Süffert rememora que guardavam a eletrola na chapelaria, fato comprovado pelos registros da ata do grupo de 23 de março de 1960. Na fotografia, Sérgio Hennemann em frente à eletrola. Eram outros tempos: ter uma eletrola era ter um patrimônio, um bem durável. E, mais que isto, a eletrola era o objeto que movia as reuniões dançantes de domingo. Sem ela, o que fariam?


Entre as décadas de 1950 e 1970 novos tipos de música passaram a ser oficialmente percebidos na sociedade, tanto do ponto de vista musicológico como social e político, sendo sua percepção e valorização ora positiva, ora negativa: rock’n’roll, folk music ou música étnica, música popular brasileira, particularmente a institucionalizada MPB, a jovem guarda, o jazz, etc. Este movimento se desenvolveu mundialmente em diversos seguimentos musicais: bandas, big bands, conjuntos, corais...

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Também a partir dos anos 1960 o mundo viveu um período histórico muito peculiar e decisivo para a categoria cronológica da vida que chamamos adolescência e juventude. Foi o reconhecimento oficial da Adolescência e da Música Popular mundial, uma associada à outra, na maioria das vezes. Uma época marcada por grandes movimentos culturais e políticos com fins de resolução de problemas sociais históricos. Jovens da época se agremiavam em todo o mundo ocidental, encabeçando movimentos, muitos deles tendo a música como meio de manifestação e comunicação.



E tudo isso se refletiu também no “25”. Os jovens da Ala Moça trouxeram muita criatividade e inovação para o Centro Cultural 25 de Julho. Conflito de gerações é algo que todos conhecemos bem. Mas naquela época isto foi particularmente notório. Esta Ala Moça era um grupo jovem irreverente, como todo o jovem dos anos 1960. Questionar cânones e padrões sociais, inovar e agir livremente era visceral na juventude. É visível nos artigos dos Boletins Informativos das décadas de 1960 uma certa discussão entre “a velha” e “a jovem guarda”. Da parte dos antigos sócios-fundadores havia aquele receio da mudança, do escândalo com certas atitudes arrojadas e de festas com música alta. Da parte de seus filhos e outros jovens havia a criatividade borbulhante, a audácia – que os levou a grandes voos, por sinal – a necessidade de se mudar tantos protocolos conservadores que já não faziam mais sentido.



Componentes da Ala Moça reunidos.

As festas eram a tônica na observação das atitudes jovens. Eles faziam coisas maravilhosas mesmo: por exemplo, festas temáticas como a “Noite em Tóquio”, ocorrida em outubro de 1967 e anunciada na sequência de promoções de bailes temáticos que vinham acontecendo desde 1965. Eram: Noite no Tirol, Noite no Havaí... e estes bailes se prolongaram anos a fio com requinte de decorações e cardápios.


Mas as temáticas eram não só criativas como divertidas. Irreverentemente divertidas, como a “Noite da Cara Metade”, realizada também em 1967 por ocasião do aniversário do Coro Misto com a ilustre presença do Conjunto Norberto Baldauf. No Boletim Informativo se lê que “aplausos e críticas se fizeram sentir”. A velha diretoria do “25” ficou maravilhada com a decoração e com o show, mas “estarrecidos pela invasão de cabeludos que, com instrumentos malucos lhes feriram sem piedade os tímpanos. Outros acharam a noite como sendo a melhor até hoje realizada. E agora, meu Fritz, quem tem razão?” (Boletim Informativo de Outubro de 1967, n.39 – ano 11)

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O artigo citado é de Adelmo Ely, então jovem líder da Ala Moça e do Coral Misto, e demonstra claramente os debates em torno dos costumes e gerações. Ele faz ponderações e concessões aos mais velhos, garantindo e ratificando a qualidade e valor da “música artística” – por exemplo, o Conjunto Norberto Baldauf em contraponto à dita “música barulhenta” – coisa que, de fato, o Coral levou adiante. A liderança deste grupo junto a outros jovens do “25” era muito forte, tendo marcado a Nova Diretoria do Centro Cultural a partir de meados da década de 1970.


DO CORAL MISTO 25 DE JULHO à EXPRESSO 25

O interesse na cultura andava lado a lado com as atividades sociais. Deste modo, foi pauta de reunião a criação de uma atividade artística para dar mais sentido ao grupo. Então, em ata de 17 de julho de 1964 instituiu-se oficialmente o Coral Misto 25 de Julho de Porto Alegre, cujas atividades haviam iniciado já no dia 27 de junho do mesmo ano. Eles pensaram: o Centro Cultural tem um coral masculino, mas precisa também de um coral misto. E assim foi. A ideia foi lançada e liderada por Adelmo Ely, jovem com seus 25 anos e que era vice-presidente da Ala Moça. Assim como lançou a ideia, Adelmo liderou ativamente e administrou o coral durante muitos anos.

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Em meio a este espírito entusiasta e irreverente é que foi criado o Coral Misto do Centro Cultural 25 de Julho. O leitor desatento poderá pensar: “Nah! É só mais um coral numa instituição que se propunha a cultivar a música e cultura”. Só que não. Transporte-se ao contexto histórico que em parte está apresentado nesta exposição e perceberá que se trata, finalmente, de um coral MISTO, que integra homens e mulheres, e todos os gêneros. Além disso, desde o início, estes jovens realizaram a proposta de um novo jeito de fazer coral, integrando ao canto trabalho cênico, balanço e dança.


O foco e vivências dos jovens do Coral Misto 25 de Julho estavam muito além da identificação étnica alemã exclusivamente. Aliás, esta deixou de ser uma característica deles, por mais que, obviamente, aqueles integrantes de ascendência alemã nunca tivessem deixado de valorizar suas origens. Mas em termos artísticos, eles realmente voaram longe. Havia no Coral Misto 25, portanto, diferentes origens de canto em grupo que se fundiram e se confundiram: a tradição teutogaúcha, os movimentos juvenis dos anos 1960 e, claro, o erudito.

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Com apenas seis anos de existência, em janeiro de 1971, este grupo se organizou e se lançou à Europa como o Gaúcho Sing und Tanzgruppe (o Grupo Gaúcho de Canto e Dança), fazendo muito sucesso! Foram inteligentes ao levar para a Alemanha a nossa cultura, também a tradição gaúcha, e não repetir para eles a tradição alemã, o que eles certamente sabiam fazer melhor do que nós.


 

Arlindo Mallman, ex-integrante, um dos fundadores da Ala Moça e hoje, integrante do Coro Masculino,

nos conta sorrindo: “Na época o “25” era dirigido pelo Oswin Müller. Ele queria acompanhar o grupo na viagem, e foi. Na primeira noite da apresentação, na Alemanha, ele falou em nome do Centro Cultural 25 de Julho! Depois disso, os jovens falaram com ele dizendo que a excursão era dos jovens. Ele estava convidado para acompanhar, mas não para falar em nome do grupo! E ele respeitou. Isto foi fantástico! Acompanhou e apoiou o grupo até o fim.” A esposa de Arlindo, Vera, também ex-integrante do grupo, lembra que: “Quem entre os organizadores estavam Adelmo Ely, Sergio Hickmann, Genésio Körbes... era uma turminha grande.”

 

Vamos trazer mais uma do Sr. Arlindo porque ele “se puxou” em trazer casos interessantes sobre esta história!


 

Diz ele que houve rumores numa das primeiras excursões à Europa, de que o Coral Misto estava sendo acompanhado e monitorado por um olheiro da ditadura militar brasileira. Não se sabe, ao fim, se isto aconteceu ou não, e menos ainda quem seria este olheiro.


Um momento em que o grupo coral ficou mais atiçado sobre essa história, foi numa tarde, no aniversário do Prefeito de Lindau/Alemanha, em que algumas pessoas começaram a perguntar para os integrantes do Coral Misto 25 de Julho, se acompanhavam a ditadura, se apoiavam... ao que todos sempre respondiam: “Nós não! Não temos nada a ver com isto!” Mas alguns alemães insistiam que, com certeza deveriam estar viajando com apoio do Governo. Arlindo lembra que, como estava sabendo de boatos de que estavam sendo acompanhados, respondeu prontamente:


- “Olha, se estamos sendo acompanhados pela ditadura, não sabemos. Mas o que sabemos é que a Alemanha apoia a ditadura militar no Brasil.”

- Como?!! – Refutou exclamado, um grupo de alemães.


E Arlindo ainda continua:

- “Olha, o Brasil está comprando 10 mil metralhadoras da Aeronáutica da Alemanha, está construindo usinas atômicas com apoio da Alemanha, então não somos nós que estamos apoiando, não é?”


Muito boa presença de espírito, sr. Arlindo! Afinal de contas, poxa vida, uma porção de adolescentes cantores viajam e são questionados sobre política justamente por políticos? Não era justo mesmo.


 

Muitos desses jovens fundadores do Coral Misto cantaram por décadas no grupo, tornaram-se grandes líderes do Centro Cultural juntamente com outros contemporâneos seus, e hoje são vovôs. É lindo ver seus relatos progressistas com olhares brilhantes ao nos contarem toda esta história.



Ao longo das décadas, muito se viveu e se realizou. Por estas andanças estiveram na liderança artística cinco regentes, a começar pela professora Josefina Hess, que inaugurou o grupo mas permaneceu com eles por apenas dois meses. Na sequência, Aloisius Staub, de 1964 a 1977, conduzindo o coral num estilo musical de canções folclóricas alemãs e gaúchas e um pouco do clássico.


Die Jugend, apresentado em SP e RJ nos primeiros anos do Coro Misto

Excursão a SP e RJ nos primeiros anos do Coro Misto

O Coral com o maestro Aloisius Staub

O primeiro LP gravado pelo grupo

Depois, Nestor Wennholz, de 1977 a 1990, inaugurando uma nova fase, de maturidade cronológica do grupo e busca de aprofundamento nos estudos da música.

Nestor Wennholz à frente do grupo na década de 1980

O Coro Misto no 20o Festival Internacional de Coros do RS, 1985

Apresentação no Centro Cultural 25 de Julho, década de 1980

O maestro Nestor foi seguido por Manfredo Schmiedt (de 1990 a 1996), que consolidou o perfil erudito do coro e aproveitou muito bem os cantores, realizando muitos trabalhos em conjunto com outros corais eruditos de Porto Alegre.


Manfredo Schmiedt à frente do Coral


Um dos programas de concerto do Coral Misto 25 de Julho junto à OSPA

Ao longo dos anos 1970, 1980 e 1990, outra instituição era de extrema importância para o canto coral: a FECORS – Federação de Coros do Rio Grande do Sul – integrando grupos de todo o estado, promovendo os famosos Festivais de Coros com competição acirrada e alto nível de avaliação de qualidade. O Coral Misto não só integrava a FECORS como muitos de seus integrantes atuavam diretamente na diretoria desta entidade, cujas reuniões, não raro, aconteceram na sede do Centro Cultural 25 de Julho.

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Por fim, desde 1996, Pablo Trindade inaugurou, então, o Expresso 25, com uma verdadeira revolução artística no grupo. De lá para cá se trabalhou muito o aspecto cênico (com supervisão de Carlota Albuquerque), o instrumental, e o estilo musical mudou completamente: o Expresso 25 é arauto de uma versão nova da Música Popular Brasileira com direção artística, regência e arranjos do maestro Pablo.

Como resultado de todo este trabalho de “Arte Total”, em 2003 o grupo lançou o musical Expresso 25, com longas temporadas de apresentações em diversos espaços e magistral trabalho de cenários no Salão Principal do Centro Cultural 25 de Julho.


 

Você participou deste musical? Faz um comentário a

respeito no final deste capítulo.

Ou será que você foi público, assistiu?

Nos conta o que lembra, e quais suas impressões.

 



1 Σχόλιο


Πελάτης
12 Ιαν 2023

Linda história de um Coral .

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