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14 - Tante Elly - Chás, Bazares, encontros, viagens, festas...


ELLY ROTERMUND KOHLMANN


Desde antes de iniciar este trabalho, muito ouvi falar nesta tia, despertando minha curiosidade. Segundo a atual presidente do Centro Cultural, Susana Fröhlich,


“Era uma personagem...”.


Nos termos do ex-presidente Denis Simões,


“Tante Elly foi, na prática, uma Presidente do Centro Cultural 25 de Julho. Deveria ter sido.”


Sua filha Mariane Kohlmann relata:


“Tu acreditas, que muitas vezes, no intervalo das aulas do Jardim de Infância, ela simplesmente pegava todas as crianças (fossem 20, 30 ou 40), atravessava a Cristóvão Colombo e as levava em fila até nossa casa para fazerem o lanche?! Isso não existe! Seria impensável hoje!”


E a filha mais nova, Marion Kohlmann, com quem viveu até o fim da vida, diz em depoimento que...


“Nossa família não era comum. Era diferente... em tudo! Lá em casa, quem fazia e acontecia era minha mãe. E muitas vezes a casa estava cheia de crianças, cheia de gente, as festas aconteciam lá.... ela estava sempre inventando coisas!”


Ao casar-se, o marido desta jovem senhora – o sr. Fritz Kohlmann – declarou com muita certeza e naturalidade: “Mulher minha não trabalha fora”. Isto pode espantar os leitores de hoje, mas talvez não fosse tão terrível à época. Apenas um homem de seu tempo, que queria até mesmo mostrar-se zeloso protetor da esposa, dando a ela uma vida tranquila. Segundo os filhos, ele era, mesmo, um apaixonado por Elly.

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E parece ter sido mesmo assim, pois as coisas sempre andaram de um jeito positivo para Elly Kohlmann. No início da década de 1960 a professora do Jardim de Infância do Centro Cultural 25 de Julho precisou afastar-se da atividade por alguns anos, e o então presidente, sr. Heinrich Nührich, sabendo que a “Sra. Kohlmann” era professora, convidou-a para ser a nova Tante do Kindergarten (tia do jardim de infância). Foi assim que Elly Kohlmann “saiu de casa” para entrar na História do Centro Cultural 25 de Julho e, mesmo, de Porto Alegre.

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Mas quer saber da melhor?! A gente pode ler esta história nas palavras da própria Tante Elly, que a contou em depoimento a um jornal (o recorte suprimiu o nome e data, mas é de 1995). Você pode ler o que ela contou no próprio jornal.


“Coitado do meu pai! – diz Marion – Depois ele perdeu a mulher. Per-deu. Aí ela não deixava mais ele dizer nada! (risos) Mas ele ficou orgulhoso dela. Orgulhoso, pois ele era esposo da Dona Elly. A minha mãe que ganhava os convites. Todos os convites do “25” eram endereçados à minha mãe, e ela podia levar o marido.” (risos).


Em meio à conversa com Marion, observo: “Era dos únicos casos que não era chamado ‘Fulano de tal e esposa’, mas ‘Elly Kohlmann e esposo’!! E nós duas rimos eufóricas! Marion diz, ainda:

“Minha mãe se tornou sócia depois! Meu pai era sócio, mas ELA comprou um título e se tornou sócia. Ela era uma matriarca. Meu pai era um apaixonado pela minha mãe! A-pai-xo-na-do. Ele fazia qualquer coisa por ela. Nossa vida em família era algo maravilhoso.



Elly Kohlmann com o marido Heinrich Kohlmann, numa festa do 25



E a mãe pensava “trinta” coisas ao mesmo tempo, e tudo funcionava. A cabeça dela vivia a mil, sempre inventando novas coisas. E dentro disso, a família ia junto (risos). Tinha que ir! Não tinha outra opção. Mas ao mesmo tempo a vida familiar era muito boa. Todo mundo gostava muito lá de casa. Meus irmãos... meus amigos, todo mundo ia lá. Eu adorava que eles fossem lá em casa, e todo mundo gostava também. E minha mãe era muito aberta. Não era rígida. Era muito liberal! Nossa!!”


Em passeio a Blumenau, em 1970 (antes da criação do Raio de Sol)

A seguir destacamos algumas das atividades que esta senhora realizou – e “fundou” – no “25”. Algumas delas foram, depois, levadas adiante de forma semelhante, por outros grupos, mas o jeito de Elly foi único: agitou o Centro Cultural, e o fez conhecido na cidade. Ela se comunicava com empresários, comerciantes, políticos, escolas e entidades e fazia as “trinta coisas acontecerem ao mesmo tempo”, como disse sua filha Marion. Estes feitos estão detalhadamente registrados na documentação histórica do 25 de Julho. Tanto em circulares como em atas, cartas e ofícios, como em fotografias.

Valorizando suas atividades, Elly Kohlmann, ela própria, guardou documentação – que muito contribuiu para esta Exposição – em álbuns fotográficos e diários, sobretudo do Kindergarten [link para o capítulo] e do Grupo Raio de Sol.





CHÁS E BAZARES

Tante Elly promoveu eventos significativos para o Centro Cultural 25 de Julho e centenas de pessoas. Os chás realizados eram algo colossal. Imaginem-se em torno de 500 pessoas reunidas no salão principal, com muito bolo e torta, quitutes e sanduíches, chás e café.

Elly, sendo uma verdadeira RP, redigia cartas endereçadas a empresários – e empresárias – convidados a contribuir para estes chás, cada um com seu metiê: a confeitaria Max oferecia tortas, lojas Salem abrilhantavam a tarde com desfile de modas, empresas de turismo sorteavam uma viagem pelo Estado, a antiga joalheria Masson fornecia brindes e prêmios, entre tantas outras pessoas com quem Elly Kohlmann se comunicava para contribuir com estes chás.

Muitos dos eventos eram, por sua vez, feitos em prol de entidades que precisassem de auxílio: era comum serem beneficiadas APAE’s e escolas similares, bem como asilos de idosos.

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Mas suas relações públicas não ficavam por aí: Encontramos um cartão em que ela felicita a Diretoria da TV Guaíba – canal 2 – pelo seu 1º aniversário! (Isto foi em 1979). Com certeza, assim, o 25 de Julho se fazia presente, notado e lembrado nas “redes sociais” da época. Com certeza, nos anos que se seguiram, a TV Guaíba – bem como outras rádios, tv’s e jornais – noticiaram o “25” para Porto Alegre e Rio Grande do Sul.

A seguir o leitor pode ler o convite que ela recebeu para inauguração do Hospital Escola na Beneficência Portuguesa, um indicativo de que as relações e atuação de Elly Kohlmann extrapolavam os muros do Centro Cultural 25 de Julho, atuando com olhar voltado para o bem social e levando a importância do Centro Cultural 25 para outros foros da cidade.

Lógico, outras pessoas também eram envolvidas na realização dos chás e encontros. A começar por toda a família Kohlmann, que por sinal foi decisiva na promoção de tantas outras festas e na configuração da diretoria do Centro 25 de Julho.


Infelizmente “ainda” não se encontrou fotos desses bazares. Mas deveriam ser algo parecido com este, realizado nos últimos anos













Um delicioso Café Colonial promovido pelo “25” em 2001















Os bazares que realizava traziam os mais lindos artesanatos de artesãos de Porto Alegre e arredores. Foram interrompidos por certo tempo e, mais tarde, a partir de 2001, retomados por Rosane Ruschel, durante a presidência de Susana Fröhlich. Rosane Ruschel os coordenou durante mais de quinze anos. Hoje continuam sendo realizados por outras pessoas.

Outro grupo que se inspirou um pouco nas atividades de Tante Elly é o atual Flamboyant, que buscou retomar encontros de terceira idade. Foi criado em 2007 e é liderado por Verônica Kühle.


VICE-PRESIDENTE CULTURAL

O leitor já entendeu que esta mulher poderia – alguns disseram que deveria – ter sido presidente do “25”. Falando neste mesmo tom, com um sorriso de satisfação, Rudolf Fritsch também nos disse em depoimento:

“Assim que eu assumi a presidência do “25”, em 1979, logo convidei a Elly Kohlmann para a Vice-Presidência Cultural.” (Depoimento concedido a Angélica Boff em maio de 2021).



Ao fundo, Elly Kohlmann em uma reunião de diretoria


Tante Elly promoveu serões artísticos, jantares culturais temáticos (por exemplo, Uma Noite em Viena, com valsas de Strauss e com música ao vivo), os próprios chás, festas de Natal adulta e infantil, concertos e abrilhantamento das datas comemorativas com música e arte, teatro, inclusive trazendo o grupo de teatro do “25” de Blumenau, exposições e... em 21 de outubro de 1980...


“... numa promoção inédita no “25”, fundou-se primeira tarde de reencontro do “Grupo Raio de Sol” – Sonnenschein, especialmente dedicada pra pessoas de 50 a 100 anos, que queiram se reunir num ambiente alegre, com novas idéias, novos amigos, brincadeiras, música e no final um chá com doces e salgadinhos, uma vez por mês.” (Relatório da Diretoria, julho de 1980 a junho de 1981, pg. 15).


Então foi fundado o Grupo Raio de Sol.



A fundação do grupo

Nesta fotografia de julho de 1981, vemos o que terá sido talvez um primeiro encontro de terceira idade, o qual fomentou a criação do grupo Raio de Sol.


GRUPO RAIO DE SOL



O Grupo Raio de Sol foi fundado para trazer vida a pessoas da terceira idade. E as atividades que acabaram realizando, em 20 anos de existência, foram muito além de encontros de amizade, chás e bailes. As pessoas lideradas por Elly Kohlmann no Raio de Sol – em sua grande maioria mulheres – também levaram alegria e amizade para asilos, hospitais, fizeram eventos beneficentes, entre outros.




As realizações estão cuidadosamente registradas em quatro diários de Tanta Elly. E não era para menos. Ver as atividades que esta mulher realizou pode motivar qualquer um! O Grupo Raio de Sol não se limitava a chás e encontros. Realizaram diversas excursões de passeio e se ocupavam também com debates de questões existenciais como a morte ou sexualidade na terceira idade, que promovessem a saúde emocional. Tudo isso era noticiado nos jornais. Pois sim, tratava-se, nos anos 1980, de algo muito novo e diferente!

Uma dessas atividades era a Semana do Idoso de Porto Alegre, com debates sobre a questão social do idoso, projeção de filmes temáticos, confraternizações, caminhada e visita a asilos.

Convido-o a acompanhar alguns destes feitos através das imagens que seguem.




Dia do Idoso, comemorado na Câmara Municipal de Porto Alegre em setembro de 1991.

Excursão a Gravatal, repetida em diversos anos
Excursão a Gravatal, repetida em diversos anos

15o ano de Raio de Sol

Convite para o 3o aniversário do Grupo Raio de Sol

Convite para o 3o aniversário do Grupo Raio de Sol. Tante Elly sempre tinha poemas para tudo

Dezenas de telegramas, inclusive de um senador de Brasília, cartões de agradecimentos e felicitações de entidades, igrejas e outros grupos de terceira idade.




A presença destas atividades nos jornais da cidade era uma constante. Os cadernos do Raio de Sol de Tante Elly são preenchidos com estes recortes.





A SALA TANTE ELLY

Todos sabem que no Centro Cultural 25 de Julho existe a Sala Tante Elly. Mas já antes da designação da sala com seu nome, esta mulher foi justamente homenageada. A primeira vez de que temos notícia foi em 1977, no Centro 25 de Julho, quando ela e o sr.Seitz receberam Placas de Prata por sua dedicação ao Centro Cultural. A homenagem foi recebida na inauguração do restaurante, totalmente reformado naquele ano. Depois, foi homenageada na Câmara Municipal de Porto Alegre.



Antônio Hhfeld entrega homenagem a Elly Kohlmann


Por fim, é bonito saber que a homenagem a Elly Rotermund Kohlmann feita através de uma sala com seu nome - Sala Tante Elly - , ainda foi recebida em vida por ela. As filhas recordam que ela já estava em cadeira de rodas quando recebeu esta homenagem. Reinaugurou a sala onde por anos deu aulas no Kindergarten.



Inauguração da sala Tante Elly. Ela cercada da família.

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