Este é o capítulo quase sem fim! Porque o pessoal do 25 de Julho de Porto Alegre fazia festa em TODAS as datas comemorativas. E se não era uma data comemorativa, inventava-se motivo para FESTA.
Antes de tudo, é importante falar sobre o grande diferencial que sempre motivou as festas do Centro Cultural 25 de Julho de Porto Alegre: o seu modus operandi. Ir a uma festa no 25 de Julho sempre significou – e ainda significa – participar de todos os preparativos! Puro engajamento, todo mundo na “estiva”, como sempre falavam. Não tanto com o peso e o fardo do trabalho – e não que este não exigisse esforço – mas muito mais do que isto, com o entusiasmo, a parceria, e inclusive a alegria de fazer comidas deliciosas, decorações incríveis, ideias de presentes, sorteios, brindes e atividades, e também a alegria de abrilhantar a maioria das festas (se não todas) com sua arte.
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Um depoimento importante nos chegou cheio de entusiasmo através de Jorge Kunrath, integrante do Coro Masculino, que cresceu no Centro Cultural juntamente com seus pais. Ele relata que o “25” nunca foi um clube feito por dezenas de funcionários, onde se chega e se é servido. Ele sempre foi feito por todos e cada um. Trazendo como exemplo, as festas e galetos do Coro Masculino – seu pai foi integrante e hoje, ele também – lembra que os preparativos de cada encontro eram uma função! “As mulheres, por exemplo, faziam o bolo, doavam o bolo, na festa serviam o bolo vendido em fatias e, no final, ainda compravam de volta o que havia sobrado do seu próprio bolo (ou de outros)!” (risos) Evidentemente este depoimento só poderia ser feito em meio a gargalhadas. Mas são gargalhadas de tempos em que “fazíamos acontecer o que era para nós mesmos”. E eram bem sucedidos e felizes.
Também Bernardo Schneider, ex-integrante do então Coral Misto 25 de Julho, escreveu um lindo texto para o livro “Expresso 25 – 50 anos”, que expressa muito bem a força que movia TODAS as festas do “25”. No texto, ele fala do coral mas se pode transportar este espírito para o Centro Cultural como um todo.
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“OS MESMOS DE SEMPRE”
“Nós, os guris do “25”, solteiros e geralmente desacompanhados, éramos jovens curtindo nossos anos ‘vinte’. Uns mais, outros menos, mas ninguém com 19 e nem com assustadores 30...
Universitários, vivíamos em “repúblicas”, JKs ou pensões... Os mais afortunados até podiam se dar ao luxo de alugar um apê de um dormitório. Sem garagem. Pra que, se ninguém tinha automóvel...? Só o Adelmo possuía um Fuca e o Antonio Hohlfeldt, um DKW teimoso na hora de ligar...
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Baladas? Nem pensar. Não tínhamos grana para festas. Nosso mundo extra trabalho ou estudo era o Coral 25 de Julho!
Mas se nós não podíamos fazer festas, o clube fazia: Oktoberfest, Bayrischer Abend, Bunter Abend... Ah, antes que o leitor vá pro Google, aí vai a tradução: Festa de Outubro, Noite Bávara e Noite de Variedades (ou, ao pé da letra, “noite colorida”,onde todo e qualquer artista amador ganhava espaço para se apresentar).
E festa de alemão, invariavelmente tem chope, linguiça bock, chucrute, batata e cuca. Fora o chope, tudo isso era preparado na cozinha do andar térreo pela equipe de cozinheiros e cozinheiras, onde muitas gurias do coral também marcavam presença (vai ver que é por isso que os guris se empenhavam tanto...). E isso tinha que ser carregado, a muque, escada acima, até o salão de festas. Panelões ao estilo ‘quartel’ subiam cheios (e voltavam vazios), para saciar o apetite de mais de mil pessoas dispostas e aproveitar ao máximo o preço do ingresso.
No comando geral, ‘seu’ Seitz! Um ‘alemão velho’, grisalho, risonho e cheio de energia. Por Deus, ‘seu’ Seitz merecia um busto de bronze na entrada do clube...
Seu Seitz é dos primeiros associados do Centro Cultural 25 de Julho. De fato, foi homenageado, mas não com busto, e sim com um diploma de Sócio Honorário. Na foto de antiga equipe de diretoria, ele é o 4º da esquerda para a direita, em pé. De paletó preto.
Mas, e quem eram os trabalhadores braçais que levavam os panelões escada acima? A ‘estiva’. Marque este termo: estiva – um grupo de voluntários, integrantes do Coral Misto, universitários, sem dinheiro, mas orgulhosos do ‘tri’ [campeões na Copa do Mundo de futebol] e do ‘25’ e que passavam horas e horas subindo e descendo escadas com seus panelões, abastecendo os foliões lá em cima. Tudo no amor! Já de madrugada, depois de liberados, podíamos jantar e participar do baile, de cortesia, mas cansados e com o desodorante vencido, era melhor ir para casa, antes que se levasse um ‘carão’...
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Não deveria, mas vou citar alguns nomes: Matias Körbes, Paulo Körbes, Laurêncio Körbes, Genésio Körbes e – acredite se quiser – havia outros sobrenomes tais como: Steyer, Hickmann, Kloeckner, Ely, Fröhlich, Kohlmann ou Schneider.
Destaque à Família Kohlmann, grande liderança e organizadores de festas.
De festa em festa, entra ano, sai ano, lá estava a ‘estiva’ a postos. De tanto repetir a ação, o grupo passou a se autodenominar: ‘os mesmos de sempre’!
Hoje, quatro décadas depois, com a vida resolvida, aposentados, os filhos encaminhados, saboreando os frutos maduros dos ‘60 no lombo’, se ainda precisarem de voluntários para uma causa nobre – mas agora só para serviços leves e mais lentos... – chamem ‘os mesmos de sempre da estiva’. De lambuja a gente ainda canta ‘Ein Prosit der Gemütlichkeit’!”
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AS PRIMEIRAS FESTAS
Quando o Centro Cultural 25 de Julho ainda não tinha uma sede grande para fazer bailes, seus associados se reuniam nas sedes de outras associações: Sociedade Navegantes São João, SOGIPA ou Caixeiros Viajantes. Alguns dos mais antigos sócios com quem conversamos (Rudolf Fritsch, Vera e Arlindo Mallmann) bem lembram dos bailes do “25” que frequentaram nessas sociedades que lhes sediam espaço.
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A partir de março de 1953, quando alugaram sua primeira sede na Av. Cristóvão Colombo, nº648, alguns encontros e outros eventos passaram a acontecer nesse endereço.. Assim mesmo, durante toda a década de 1950 – até ser inaugurada a atual sede do 25 de Julho na Rua Germano Petersen Jr. – toda festa maior acontecia, sobretudo, na Sociedade Navegantes São João, que comportava grande número de pessoas.
DIA DO IMIGRANTE – 25 DE JULHO
Uma das comemorações de que se tem mais registros desta época, nos anos 1950, é a data de 25 de julho. Os festejos eram grandes. Sempre havia encenação teatral, baile, apresentações musicais... com certeza, após o período histórico de repressão durante o governo Vargas e, depois, durante a II Guerra, poder festejar a data de sua identidade era como se reencontrar. Muitas fotografias de apresentações teatrais da época o leitor vai encontrar no capítulo Grupo de Teatro. Para compreender o contexto, importante também ler os capítulos Como Tudo Começou e Identidade.
As comemorações do Dia do Colono – ou Dia do Imigrante – foram marcantes por décadas! Como exemplo trazemos o relato de Elly Kohlmann, quando integrante da diretoria, contando como ocorreu esta grande festa em 1980. Comemoravam-se os 156 anos da Imigração, e a festa reuniu nada menos do que 450 pessoas entre associados, amigos e autoridades que lotaram o salão do Centro Cultural 25 de Julho de Porto Alegre! Contaram com a presença de dois grupos artísticos da Alemanha, o Winzertanzgruppe-Riol (de dança) e o Musikverein-Schweich (de música), além da apresentação de todos os grupos culturais da Casa. Essas festas eram divulgadas na imprensa da cidade e, depois, viravam notícia! Segundo relato de Elly Kohlmann, a TV-Canal 10 (atual Band) esteve presente até o final da festa, a pedido dela mesma – grande articuladora dos eventos do “25”!
Recortes de jornais anunciando as comemorações do dia da Imigração Alemã em 1983. Pena não ter sido guardada a referência de nome do jornal, cidade e data. Mas assim mesmo aponta para a valorização da data e do Centro Cultural na cidade de Porto Alegre e arredores.
Todos os grupos culturais da Casa, além de outros artistas, apresentavam-se, e eram feitos discursos em alemão e, mais tarde, também em português, além de baile e jantar. Nas imagens que seguem é de se destacar também o salão cheio!
BAILES E FESTAS TEMÁTICAS
Já falamos de algumas festas dos dois corais mais antigos do “25”... pois cada grupo ou setor fazia suas festas, além daquelas comuns a toda a associação.
Vários bailes eram abrilhantados pelo famoso e conceituado Conjunto Norberto Baldauf, liderado pelo filho de Sigismund Baldauf, cantor do Coro Masculino e personagem de grande atividade no Centro Cultural 25 de Julho.
Depois de tantos anos, em 1981, essa turma cansou de fazer sempre igual e, identificando-se com a cultura gaúcha, fizeram a Noite Gaúcha. Os trabalhos de costura, estruturas, pinturas para decoração da festa foram espetaculares, feitos todos pelos cantores! O sucesso foi tão grande que Noites Gaúchas se repetiram ao longo da década de 1980.
Abaixo destacamos algumas destas festas que se repetiam todos os anos. A mais concorrida e fotografada de todas, a Noite Bávara, ou Bayrischer Abend.
Noite Bávara de 1971. Como dissemos, as festas sempre contavam com grande criatividade por parte dos organizadores. Entre outras atrações, brindes não faltavam. E olha que brinde! Aqui foi sorteado um fogão! Em outra ocasião, uma bicicleta.
Abaixo reproduzimos parte do Boletim Informativo “O 25”, do mês de julho de 1970, em que toda esta movimentação em torno das festas é muito bem descrita. Trata-se, além do mais, de um momento importante na história do Centro Cultural 25 de Julho em que gente jovem está entrando na diretoria, trazendo novos ares, a começar pela programação social.
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O mesmo texto que segue é importante por marcar nomes de peso significativo com as famílias Kohlmann, Seitz, Mallmann, Willy Schmidt, Rudolf Fritsch e Werner Schwanke. A entrevista registrada foi feita com o então vice-presidentesocial, Rudolf Fritsch.
E, como falamos, as brincadeiras e alegrias nessas festas não tinham limites. Aí estão mais dois exemplos de brindes e prêmios rifados nelas.
A tradicional Tanz Fest, do Grupo de Danças sempre realizada. Inerrompida só pela pandemia de 2020!
BOITE NO “25”
Explicação necessária para a atualidade: Boite (ou Boate, aportuguesado) era o termo usado para festas dançantes na década de 1970. Eram maiores que reuniões dançantes de garagem, feitas apenas entre amigos e convidados. Boite era grande e aberta a todo público. Não muito diferente – senão pelas músicas – da Discoteca, que só surgiu nos anos 1980.
Sobre este assunto, Jorge Luiz Kunrath, hoje integrante do Coro Masculino, relata-nos um feito engraçado. Ele era jovem, lá pelo final dos anos 1970, e seu pai, Paulino Kunrath, era diretor social do Centro Cultural 25 de Julho. Desde aquela época havia a preocupação de se trazer novos sócios para o Centro Cultural, principalmente gente jovem, que garantisse o futuro da instituição.
Certo dia, seu pai olhou para Jorge e a gurizada adolescente e disse: “Filho, me ajuda! O que podemos fazer para trazer gente jovem para o “25”? A resposta foi... REUNIÕES DANÇANTES. Gurizada só pensa em festa!
Desta forma, Jorge se mobilizou com amigos e fizeram acontecer! Conseguiram caixas de som emprestadas, lâmpadas coloridas pintadas em casa, e até mesmo foram ao Correio do Povo para que a festa fosse divulgada. Bah! Caiu no jornal, caiu na boca do povo. O sucesso foi total! Era gente que não terminava mais! Na portaria, um funcionário tentava cobrar as entradas, colocando-se atrás de mesas improvisadas para controlar o acesso de tanta gente; no salão a música não deixava ninguém parar de dançar; no estacionamento e na rua a confusão de carros era total! Jorge conta que para a segunda Boite no “25” chamaram até a Brigada Militar para ajudar no controle. O restaurante também ficava mais lotado a cada festa, e o ecônomo não dava conta de atender os pedidos.
A Boite do “25” havia se tornado um dos eventos para jovens mais conhecidos da cidade. Não havia mais necessidade de divulgação, e a cada nova edição, mais gente aparecia. “Naquela época, nunca tive tanta gente dizendo ser meu amigo para conseguir vantagens na hora de entrar”.
Neste período houve um aumento significativo no número de sócios, pois o ingresso para a Boite era similar à mensalidade. Apesar do sucesso, depois de meio ano, a Boite foi cancelada. O Centro Cultural 25 de Julho não possuía infraestrutura adequada para o porte e tipo do evento que aquelas festas tinham se tornado!
ANIVERSÁRIO DO CENTRO CULTURAL
“O Homem é um animal simbólico” (C. G. Jung) Por isto, registrar e comemorar datas traz uma força incrível para nossas vidas! E assim, o Centro Cultural 25 de Julho de Porto Alegre sempre comemorou seus aniversários, deixando o Centro fortalecido para chegar até esta grande comemoração dos 70 anos! Foram 10, 20, 24, 25, 35, depois 50 anos de existência e, por fim, 70 anos!
PARABÉNS AO CENTRO CULTURAL 25 DE JULHO DE PORTO ALEGRE COM TODOS OS SEUS FUNDADORES, DIRETORES, ASSOCIADOS E PESSOAS QUE COMPARTILHARAM DESSE ESPAÇO!
Centro Cultural 25 de Julho, 24 anos. A polonese que sempre abria os bailes
Centro Cultural 25 de Julho com 35 anos em 1986
As comemorações dos 50 anos foram amplamente registradas, como fotografias organizadas num álbum e muitas apresentações dos grupos culturais. Segue uma pequena seleção destas imagens.
50 anos, em 2001
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NATAL
Os natais no Centro Cultural sempre foram realizados com muito carinho, trazendo o espírito natalino alemão. Grandes árvores coloridas e muita música e canto sobretudo em alemão.
Confraternização da Paz em torno de uma mesa coberta de delícias natalinas. Associados e amigos são sempre convidados para a CONFRATERNIZAÇÃO DA PAZ, que nos traz o verdadeiro sentido do Natal.
Para as crianças sempre houve a festa das crianças, com distribuição de presentinhos pela figura querida do Papai Noel ... Mas há muitos anos , na verdade, o personagem que desempenhava esse papel era Sankt Nikolaus!
Natal 1960 no Kindergarten da Tante Elly
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REVEILLON e CARNAVAL!
Para o Reveillon era costume fazer-se uma grande festa no Centro Cultural, com jantar e baile.
Carnaval de salão?! Teeeemmm!! Tinha! 🎊
Você tem alguma história icônica ou pitoresca para contar sobre uma festa?
Conta ali embaixo nos comentários!
Tem lembranças nostálgicas de natais! Conta também, é importante
para completar estas lindas histórias.
CASAMENTOS
Ao longo dos oito anos em que o 25 funcionou nesta sede provisória, as atividades foram intensas, sinalizando uma comunidade fundada não apenas pelo “Socorro à Europa Faminta” ou para cultivo da língua alemã, mas para efetivo convívio e desenvolvimento cultural de uma comunidade forte que se formava.
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Recém fundado, naquele singelo salão alugado, o Centro Cultural 25 de Julho já era motivo de grandes alegrias. Funcionários das empresas Brahma, Hospital Moinhos de Vento, Renner, entre outras, associavam-se ao clube porque lá encontravam pessoas que falavam sua língua materna e com quem faziam amizade. Inclusive entre essas pessoas, conheciam seus noivos, numa cidade que muito aos pouquinhos se lhes descortinava.
Um personagem que ilustra esta época é Paulino Kunrath, associado nº850 do Centro Cultural em 1953, que realizou seu casamento ali, trazendo para o 25 sua esposa Herta Alvina Kunrath (sobrenome de solteira, Görbing) e, nos anos que se seguiram, os filhos.
Repare que apenas dois anos após sua fundação, sem sede própria e definitiva, o 25 de Julho já contava com quase mil sócios! Mas que feito espetacular!
O casamento foi simples: casal jovem iniciando sua família, ele iniciando na profissão de seus sonhos – mecânico de automóveis. Mas a alegria e o envolvimento com aquela comunidade eram visíveis. O 25 de Julho, desde seus primórdios, “foi palco” que possibilitou a realização de muitos casamentos.
Com o passar dos anos, os associados presenciaram muitas bodas, realizaram casamentos, participaram como convidados, ou até mesmo, auxiliaram na organização administrativa de tantas e tantas celebrações e festas que contribuíram para a manutenção deste Centro Cultural e marcaram a história de vida de tanta gente.
Você festejou seu casamento no Centro Cultural 25 de Julho de Porto Alegre? Ou conheceu sua cara-metade aqui? (Cara-metade é um termo de época, né? Rrsss).
Escreve nos comentários, no final deste capítulo!